“Não tenho mais nome, sou a menina dos tiros”, diz mulher vítima de tentativa de feminicídio em 2018

Hoje com 34 anos, a manicure, que tinha 30 na época em que foi alvejada, afirmou que o crime contribuiu para a formação de um estigma que prejudicou sua vida profissional e a convivência em sociedade.

Começa nesta segunda-feira (19) o júri popular do sargento reformado da Polícia Militar, Erivaldo Gomes dos Santos, réu pela tentativa de homicídio qualificado a manicure Renata Sérgio da Silva, baleada em setembro de setembro de 2018. Antes do início do julgamento, a vítima relatou que, desde o crime, tem dificuldades de conseguir emprego e desenvolveu um “pavor” constante.

Hoje com 34 anos, a manicure, que tinha 30 na época em que foi alvejada, afirmou que o crime contribuiu para a formação de um estigma que prejudicou sua vida profissional e a convivência em sociedade. “Eu não consegui mais emprego. Depois que aconteceu isso comigo eu sou reconhecida em todos os locais; quando eu chego [em um novo trabalho] ainda consigo passar mais ou menos dois meses, depois começam a falar e me demitem do nada”, disse Renata Sérgio da Silva.

“Todo mundo fala, pergunta sobre, e me chamam de ‘menina dos tiros’. Não tenho mais nome, sou a ‘menina dos tiros’”, completou a vitima.

Renata foi atingida por seis disparos de arma de fogo, feitos pelo policial, com quem tinha uma relação afetiva encerrada um ano antes do crime, em 2017. A tentativa de feminicídio ocorreu em um salão de beleza onde a manicure trabalhava, no bairro de Parnamirim, Zona Norte do Recife. O momento em que a vítima foi alvejada foi registrado em vídeo pelo circuito de câmeras de segurança do estabelecimento. Em 2018, o réu, Erivaldo Gomes dos Santos, foi preso um mês após a prática do crime. Desde então, o acusado encontra-se em regime fechado.

“Hoje eu não ando mais só, não trabalho, não consigo ficar com muita gente por perto, porque tenho pavor. Fico pensando que a qualquer momento alguém vai sair dali e me matar”, afirmou Renata, que também citou um histórico de violência psicológica e ameaças de agressões físicas feitas por parte do homem ao longo de 11 anos de relacionamento, que era mantido de forma extraconjungal pelo PM reformado.

Segundo a mulher, os traumas também afetaram a vida da filha, que na época do crime tinha 10 anos de idade. “Minha filha tem traumas desde então. O povo pergunta a ela se a mulher que passa na televisão sou eu e ela responde que sim, que sou mãe dela. Ela participa de várias terapias. Quando escuta o nome do pai, diz que não quer ele por perto”, contou Renata, que foi ouvida pelo júri na manhã desta segunda.

De acordo com a advogada de Renata, Tatiana da Hora, “A tentativa de feminicídio é escancarada, filmada. Ela foi alvejada com uma medida protetica dentro da bolsa. Então não tem muito o que discutir, acredito que é uma tentativa de homicídio triplamente qualificada”, disse.

Defesa diz que não houve tentativa de feminicídio
A defesa do réu, Erivaldo Gomes dos Santos, que confessou a autoria dos disparos, alega que não houve tentativa de feminicídio e que o PM reformado deve responder apenas pelo crime de lesão corporal. “No momento em que ele começou a efetuar os disparos, ele desistiu sem nenhuma intervenção, de nenhum agente externo. Logo, a defesa sustenta que houve crime de lesão corporal”, disse o advogado Eduardo Morais.

Sobre a medida protetiva que havia na época, a defesa reconhece que houve violação, mas alega que esse fato não significa que houve intenção de matar. “São tipos penais independentes. A gente não fala com relação ao descumprimento em uma vontade lícita de matar. A tentativa [de homicídio] só seria completa se, por circunstâncias alheias à vontade de Erivaldo, houvesse a suspensão dos atos de execução; mas ele, voluntariamente, parou o que começou. O direito penal classifica isso como uma desclassificação, de tentativa para lesão corporal, completou o advogado, que afirmou também que a “resposta a sociedade já foi dada”.

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